05/01/2016
Mais Médicos a bordo: profissionais do Programa em unidades fluviais
Verdadeiras avenidas de água. Assim são os caudalosos rios e igarapés da Amazônia, por onde se chega a diversas comunidades ribeirinhas que, tal qual as populações dos centros urbanos, também precisam de atendimento médico. Alguns desses lugares são de tão difícil acesso que não adianta avião, helicóptero ou carro, só se chega de barco. Se é complicado para essas pessoas o deslocamento até uma unidade de saúde na cidade mais próxima, então, a unidade de saúde vai até lá. Esse é o conceito das Unidades Básicas de Saúde Fluviais (UBSF), “postos de saúde” flutuantes que levam os benefícios da atenção básica ao interior da Amazônia.
Desde 2011, o Ministério da Saúde tem uma política específica para as UBSF. Existem 15 unidades em funcionamento, e até 2018, estão previstos o financiamento e a construção de mais 64 unidades, das quais 28 já estão em fabricação. Atualmente, três unidades fluviais contam com profissionais do Programa Mais Médicos. São elas a unidade de Manicoré (AM), com um médico do Programa, a unidade de Cruzeiro do Sul (AC), onde atua outro profissional do, e Santarém (PA), onde trabalham mais dois.
Um médico do Programa na UBS fluvial de Manicoré
Localizado nas margens do Rio Madeira, a 333 km de Manaus, Manicoré tem pouco mais de 50 mil habitantes e conta com oito médicos do Programa Mais Médicos. Um deles, Antenor Alexandre Porto Neto (31), atua na UBS Fluvial do município e fez sua primeira viagem nesse tipo de embarcação em setembro de 2015. “Um idoso me disse que nunca tinha ido a um médico e contou que sentia muita dor de cabeça, mas achava que não era nada. Quando chegou na consulta, a pressão arterial dele estava muito alta”, conta Antenor. “Havia um grande número de pacientes que nunca souberam que eram hipertensos, alguns diabéticos”, diz o médico, que em sua primeira viagem realizou mais de 30 consultas por dia.
Unidade atende 210 comunidades
A UBS fluvial de Manicoré foi inaugurada em junho de 2015 e já realizou três viagens. A unidade oferece cobertura a 32 mil habitantes de 210 comunidades localizadas próximo às margens dos rios Madeira e Manicoré.
“Aqui temos muita criança. Pessoas que muitas vezes não têm como levar os filhos à cidade, muitos cartões de vacina desatualizados. Quando a gente chega, a mãe aproveita para atualizar”, explica a coordenadora da Atenção Básica de Manicoré, Lexisandra Pascoal. A gestora conta que há uma grande demanda por imunização. Somente na viagem mais recente, realizada nos primeiros dias de dezembro, de um total de 1.583 atendimentos, 241 foram de vacinação.
O serviço mais procurado, no entanto, segundo Pascoal, costuma ser o do dentista. Na viagem de dezembro, foram 429 atendimentos odontológicos. A coleta de exames preventivos, como o Papanicolau – que detecta câncer de colo de útero e anormalidades causadas pelo HPV – também é muito demandada, além das consultas médicas e de enfermagem. A equipe da UBS fluvial realiza, ainda, consultas de pré-natal, palestras com as comunidades, visitas domiciliares, entre muitos outros procedimentos.
“A maior importância da unidade fluvial é permitir que a população seja atendida na sua própria localidade, na porta da comunidade ou próximo. Além de serem atendidos, também recebem os medicamentos”, afirma Pascoal.
De Manacapuru para Manicoré
O Antenor, profissional do Mais Médicos que atua na UBS fluvial de Manicoré, é amazonense também, natural de Manacapuru, cidade próxima à capital Manaus. Na cidade natal, vivem seus pais, irmãos e tios, com quem o médico se comunica por telefone ou redes sociais enquanto está em terra. Isso porque nas unidades fluviais não há internet ou telefone. A comunicação com o meio externo é feita via rádio.
Por meio do Mais Médicos, Antenor tem a oportunidade de se estabelecer profissionalmente na sua região, em seu estado de origem. Mais que isso, ele deixou Manacapuru, a meno de 100 km de Manaus, para atuar num município sertanejo, a cerca de 560 km da capital. Exemplo concreto de um dos principais objetivos do Programa: fixar médicos no interior do país e reduzir o êxodo que leva profissionais de saúde a deixar suas comunidades em busca de trabalho nos grandes centros urbanos.
O trabalho é o mesmo, seja na terra ou na água
Ao contrário do que possa parecer, a atuação em UBS fluvial não é muito diferente do que se vivencia nas unidades convencionais. Há um período de permanência na embarcação, que pode durar 10, 15, 20 dias, dependendo do roteiro da viagem, mas as atividades profissionais sãos as mesmas. A cada mês, enquanto está embarcado, o médico cumpre sua jornada diária de oito horas de trabalho, e ao término da viagem, permanece em terra de folga para descansar e exercer suas atividades educacionais. Afinal, a carga horária do curso de especialização não é cumprida dentro da embarcação, mas sim quando o médico está em terra.
“A embarcação é preparada para fazer exatamente o que uma UBS convencional faz”, explica o diretor do Departamento de Atenção Básica, Allan Nuno Alves de Sousa. O médico recebe apenas treinamento preventivo de segurança a bordo. Fora isso, afirma o diretor do DAB, o trabalho embarcado é igual ao que se executa em terra firme.
“Conseguimos resolver em torno de 80% das necessidades de saúde dessa população. Do ponto de vista absoluto, são poucas pessoas, se comparado a um grande centro urbano. Mas, do ponto de vista humanitário, é uma ação extraordinária para as pessoas que vivem ali”, comenta o diretor.
Veja o que tem nas Unidades Básicas de Saúde Fluviais (UBSF):
Atendimentos:
- vacinação
- consultas médicas
- consultas de enfermagem
- pré-natal
- ações de educação em saúde
- coleta de exames preventivos
- testes de HIV, Sífilis e outros
- consultas de odontologia
- outros procedimentos odontológicos
- procedimentos ambulatoriais (sutura, inalação e outros)
- visitas domiciliares
- fornecimento de medicamentos
Equipe de Saúde da Família Fluvial (ESFF)
- médico
- enfermeiro
- auxiliar de enfermagem
- odontólogo
- auxiliar de odontologia
- agente de saúde comunitário
Estrutura da UBS fluvial:
- farmácia
- laboratório
- sala de vacina
- sala de procedimentos
- consultórios
- consultório odontológico
- cozinha
- banheiros
- leitos para a equipe
Saiba mais sobre Atenção Básica
Fotos: Ministério da Saúde e Coordenação de Atenção Básica de Manicoré (AM)
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